sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Conheça Watchmen – Quem vigia os Vigilantes?

Capa da Publicação
Pare e pense por um momento: como seria o mundo caso existissem super-heróis? Seria um lugar melhor de se viver como as HQs convencionais nos mostram, ou as coisas não seriam assim tão simples? O governo, seria complacente com super-poderosos vagando pelo mundo? E as guerras? Como isso as afetaria? Alan Moore, escritor de obras como V de VingançaDo Inferno e Monstro do Pântano, e talvez o maior gênio em se tratando de HQs, responde esta pergunta.
O bruxo Alan Moore
Alan Moore, o bruxo
Em 1985, a DC Comics adquiriu os direitos dos personagens da extinta Charlton Comics. Dentre eles, se encontravam o QuestãoBesouro AzulPacificadorCapitão ÁtomoThunderbolt e a heroína Sombra da Noite. Inicialmente, seriam estes os personagens que fariam parte da história, mas a editora se opôs a ideia. Eram personagens recém-adquiridos, e se fizessem parte de Watchmen, seriam inutilizados posteriormente. Sem se abalar, Alan Moore apenas os substituiu, criando outros personagens com características semelhantes aos originais.
Os personagens da Charlton e os de Watchmen
Os personagens da Charlton e os de Watchmen
Publicada em Setembro de 1986 pela DC Comics, Watchmen se passa em uma versão alternativa da década de 1980, onde a existência de “vigilantes mascarados” e um pequeno deus criado de forma acidental pela ciência levou a história a tomar rumos diferentes. O Presidente Nixon se candidata a um segundo mandato, os EUA vencem facilmente a Guerra do Vietnã e novas tecnologias são desenvolvidas, como rentáveis carros elétricos.
Entretanto, quanto mais a segunda geração de vigilantes se populariza, mais aumenta a retaliação do povo. Não tarda para que a população comece a questionar “Who watches the Watchmen?” (do Latim “Quis custodiet ipsos custodes?”), que pode ser traduzido para “Quem vigia os vigilantes?”.
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 Devido à rejeição popular, é implantada a Lei Keene, que exige o registro dos “vigilantes mascarados” no governo, o que força a aposentadoria da maioria dos vigilantes. Alguns poucos se registram e passam a trabalhar para os EUA, enquanto um, de forma renegada, continua exercendo o papel de vigilante, sendo constantemente procurado pela polícia.
A história se inicia com o misterioso assassinato de Edward Blake, o vigilante conhecido comoComediante, que, após a Lei Keene, passou a trabalhar perante ordens do governo. Rorschach, que ignora a lei e continua patrulhando as ruas, se interessa pelo caso e toma para si a tarefa de informar aos seus companheiros que alguém está dando cabo dos antigos justiceiros. A partir deste ponto, somos apresentados aos personagens, pessoas completamente diferentes umas das outras, e decidirmos quais deles compreendemos melhor.
HUES
Temos Jon Osterman, o Dr. Manhattan: um cientista que ganhou poder sobre a matéria quando foi acidentalmente desintegrado em uma experiência. Agora ele trabalha como agente sancionado pelo governo dos Estados Unidos. O Dr. Manhattan vive num tipo de universo quântico e assimila o tempo de maneira simultânea. Para ele, o passado e o futuro estão acontecendo. Isso tem grande influência na percepção do personagem sobre os assuntos humanos.
Adriam Veidt, o Ozymandias, também conhecido como o homem mais inteligente do mundo: Visionário e admirador de Alexandre da Macedônia, chega a afirmar que este é o único ser humano com qual tinha alguma afinidade. Com seu extraordinário intelecto, ele consegue domínio total sobre seu corpo, possuindo diversas habilidades físicas. Também foi capaz de antecipar a onda anti-heróis, se aposentando antes e revelando sua identidade. Assim evitou a rejeição da opinião pública que acometeu seus companheiros e tornou-se uma celebridade adorada por todos.
Edward Blake, o Comediante, que também está a serviço do governo americano: Blake não tem ilusões a respeito do mundo e das pessoas. Ele não está nessa por um mundo melhor e o único refúgio que encontra é o humor. Sua ironia é amarga, porque sua visão da realidade é complemente crua. Sua conduta amoral é uma resposta terrível para a única alternativa aparentemente possível diante de tanta consciência: o desespero. Num mundo onde não pode haver consenso que não seja fabricado, onde a democracia é privatizada e as próprias revoltas são lutas sugeridas pelo poder para dar a falsa ilusão de que o controle não é completo, o Comediante está bastante à vontade.
Walter Kovacs, Rorschach: pessimista, paranoico e incapaz de viver em sociedade, Rorschach construiu sua própria moral. Recusa-se a ver o mundo em tons de cinza. Para ele, os fins não justificam os meios. Existe o que é aceitável e o que não é, preto e branco sem se misturar, exatamente como a sua máscara. É convicto no que acredita, e põe suas opiniões a frente da própria vida.
Dan Dreiberg é um homem rico e tímido, que nunca se desfez de todos os apetrechos da época que combatia o crime pelas ruas sobre a alcunha de Coruja. Ele se sente arrependido por abandonar tão condescendentemente a carreira de vigilante, onde fazia dupla com Rorscharc. De repente, ele se sente motivado para infringir a lei e, para nossa surpresa, vemos que todo o seu equipamento tecnológico só estava esperando uma boa oportunidade para ser colocado em funcionamento. Dan é responsável por expandir as investigações de Roscharch e descobrir o que realmente está acontecendo.
E por último, mas não menos importante, Laurie Júpiter, a Spectral, que até então era casada com o Dr. Manhattan. Laurie fica completamente aliviada com a lei Keene, uma vez que acreditava ter seguido uma carreira imposta pela mãe, Sally Júpiter, a primeira Spectral. Depois de uma briga com Jon, onde o acusa de completa indiferença, Laurie se hospeda na casa de Dan Dreiberg, o Coruja, com quem se envolve num relacionamento e, para sua surpresa, volta a usar o uniforme quando Dan começa a acreditar na teoria de conspiração de Rorscharch. Laurie era o vínculo de Jon com a humanidade, e o fim do casamento deles coloca a humanidade em uma grande turbulência política.
" Logo vai haver guerra. Milhões vão queimar. Milhões vão perecer de doença e miséria. Por que se importar com uma morte? Porque existe o bem e o mal, e o mal tem de ser punido. Mesmo à beira do fim, isso não vai mudar. Mas muitos merecem punição... e há tão pouco tempo."
” Logo vai haver guerra. Milhões vão queimar. Milhões vão perecer de doença e miséria. Por que se importar com uma morte? Porque existe o bem e o mal, e o mal tem de ser punido. Mesmo à beira do fim, isso não vai mudar. Mas muitos merecem punição… e há tão pouco tempo.”

A existência de um deus entre os homens como o Dr. Manhattan é largamente explorada. Tecnologias que antes seriam impossíveis de desenvolver são criadas devido ao seu auxílio, conflitos que levariam anos para serem resolvidos chegam ao fim por causa de sua mera presença.  O mundo parece se beneficiar dele. Isso até a chegada da Guerra Fria.
Se no nosso mundo, a Guerra Fria quase levou a uma III Guerra Mundial devido à batalha de poderes entre a União Soviética e os EUA, imaginem em um mundo onde existe o Dr. Manhattan. O seu próprio nome o remete como propriedade dos Estados Unidos, e a União Soviética não gosta disso. A III Guerra Mundial parece inevitável, e nem mesmo o Dr. Manhattan poderia proteger a humanidade no caso de um holocausto nuclear. O fim do mundo está próximo.
Frente à isso, o que seria necessário para salvar a humanidade de si mesma? O que levaria a humanidade a pôr de lado suas diferenças ao menos por um momento? Alguém na história encontra a resposta para tal questão, e resolve por seu plano em prática. Doa a quem doer.
O Smiley ensanguentado que se tornou símbolo da história
O Smiley ensanguentado que se tornou símbolo da história

Os desenhos de Dave Gibbons são mais que competentes. Sua arte é crua, o que casa perfeitamente com o estilo visceral da história. Também é carregada de sutilezas que só percebemos depois de uma segunda lida. Reparem, por exemplo, em como Ozymandias e Coruja carregam uma expressão triste por grande parte da história, cada um por seu próprio motivo. Intrigante.
Watchmen é um marco das HQs. Considerada por muitos a melhor HQ já escrita, e a única história em quadrinhos considerada obra de arte pela crítica em geral, é uma obra para se ler e reler diversas vezes. Filosofia, política, cultura, ciência e questionamentos éticos e morais se encontram nesta história, que não só foge dos clichês das revistas de super-heróis, como brinca com eles. Ao fim da leitura, você vai se questionar qual a razão de nós, seres humanos, sermos assim. Mas já vou avisando: não perca muito tempo com isso. A verdade é que somos complicados demais.

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