sexta-feira, 18 de julho de 2014

Superman x Muhammad Ali – A maior luta de todos os tempos nos quadrinhos


No fim dos anos 70, os quadrinhos eram vistos como coisa de criança e uma linguagem tida como inferior, mas tudo mudou na década seguinte com a revolução capitaneada por Alan Moore, Frank Miller (que recentemente teve morte cerebral), Neil Gaiman e outros. Porém, histórias em quadrinhos como “Supeman vs. Muhammad Ali” são a prova de que esse crescimento  já vinha acontecendo. Nem preciso lembrar que a dupla criativa responsável pela luta, Neil Adams e Dennis O’Neil, foi a mesma que mudou a história das HQs com seu trabalho em “Lanterna Verde & Arqueiro Verde”, que quebrou tabus sobre drogas, prostituição, homossexualidade e outros assuntos polêmicos nunca vistos nos gibis.
Alguns homens se tornaram símbolos tão fortes que deixaram de ser humanos e se tornaram verdadeiras lendas vivas. Um desses gigantes foi Cassius Clay, mais conhecido pelo nome que adotou posteriormente: Muhammad Ali. E o que acontece quando um símbolo ganha vida e praticamente se torna um homem? Foi isso que aconteceu com o super-herói Superman, tão presente na vida de seus fãs que parece ter carne e osso (ainda mais depois de ver a versão definitiva pro cinema com Christopher Reeve).
A somas desses dois conceitos totalmente fantásticos gerou uma ideia que a primeira vista pode parecer completamente maluca e idiota: “Superman vs. Muhammad Ali” de Neil Adams, que desenhou e roteirizou a partir de um roteiro de Dennis O’Neil. Essa história em quadrinhos, originalmente lançada no formato gigante, foi um verdadeiro marco para ambos heróis e é um das HQs mais bacanas de todos os tempos.
Nunca dei muita bola para esse gibi. Porém, desde que comecei a estudar a vida de Muhammad Ali, fiquei  morrendo de vontade de ler, apesar de ainda ter que fosse uma história constrangedora. Por sorte, a Panini aproveitou o aniversário de 70 anos de Ali e relançou  a HQ em uma edição capa dura com altíssima  qualidade do clássico confronto do boxeador e o azulão. E, para minha surpresa, o gibi é uma delícia de ler.
A história foi lançada em 1978 e mostra todo o cenário groove, hipponga e psicodélico da época! Para você ter uma ideia, tudo acontece por acaso e sem necessidade de grandes explicações, mas nem por isso o leitor se diverte menos. Clark Kent, Louis Lane e Jimmy Olsen  estavam procurando uma pauta nas ruas de um bairro negro quando se deparam com uma cena fantástica: Muhammad Ali jogando basquete com algumas crianças em uma quadra pública. Não pensam duas vezes e se preparam para entrevistar o atleta, mas a conversa é interrompida pela chegada de um alienígena que convoca o maior guerreiro da terra para um duelo. Caso derrotem nosso campeão, a Terra será destruída!
A parte divertida é que o maior guerreiro é Muhammad Ali! O Superman tenta intervir dizendo que ele é poderoso e tal, mas Ali retruca que nem do planeta Terra ele é. Se esse não é o diálogo mais legal de todos os tempos, eu tou ficando velho e caduco de vez! Para resolver essa dúvida, Ali e Super decidem fazer uma disputa entre si antes de enfrentar o campeão alienígena. O resto me reservo a não convidar vocês para lerem.
O mais interessante nessa história em quadrinhos é o pano de fundo político em que ela está inserida. Muhammad Ali era o grande símbolo da revolução social que os negros estavam conquistando e, em 1974, havia enfrentado o stablishment norte-americano ao dar uma surra daquelas no pau mandado do George Foreman (que foi um ótimo lutador e churrasqueiro). Ali nocauteou o máquina de matar Foreman usando a inteligência e sua capacidade de ver o boxe como um xadrez ou arte estratégica. Esse símbolo de heroísmo transformou aquele homem em uma das nossas lendas heróicas do século XX, que deveria ser contada para as crianças da mesma forma que as fábulas.
A luta entre Superman e Ali é um reflexo dessa clássica luta entre a supremacia branca capitalista e a alternativa negra muçulmana, mas vai além disso. Na história em quadrinhos, vemos a dupla de heróis se unindo para enfrentar um inimigo maior e mais cruel: a guerra. Dá pra ver que o discurso da HQ não era uma luta entre brancos e negros, capitalistas e comunistas, caretas e descolados, mas uma linda história sobre a humanidade esquecendo suas diferenças para se unir contra um inimigo em comum: a indústria bélica.
Qualquer pessoa que gosta de história, contracultura e super-heróis vai encontrar em “Superman vs. Muhammad Ali” um retrato bastante interessante sobre o período e a mentalidade dos que queriam mudar o mundo nos anos setenta. Se 10% das histórias de super-herói atuais tivesse o sabor rebelde contido nas páginas desse encadernado, o mundo seria um lugar muito mais divertido e bacana. Pelo menos para os leitores de quadrinhos!
Fonte: Contra versão

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